“... nada é meramente psíquico ou meramente somático. “( Freud )
A Medicina e a Psicologia vem estudando em conjunto as doenças físicas e suas relações com a mente
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O conceito de Psicossomática começou a ser formulado entre o final de século IXX e início do século XX e vem evoluindo nas últimas décadas, para a confluência entre as ciências e a coerência de que não existe separação entre CORPO E ALMA. Logo, não existem doenças totalmente psíquicas ou totalmente físicas.
Psyque significa “ alma “, enquanto Soma significa “ corpo “ . Os dois juntos formam a palavra “ psicossomática “. O termo foi primeiramente utilizado em 1922, na Alemanha (juntamente com a Áustria, o berço da Psicanálise).
Inicialmente, dizia respeito a apenas aquelas doenças e sintomas sem correlação com alteração em exame complementar. Por exemplo, quando um paciente “acredita” não enxergar, ou acredita que não pode andar. Mas não há nada em seu exame físico ou em exames de apoio de diagnóstico que demonstre isso. Existe um motivo emocional evidente (algum evento psicologicamente traumático). O sintoma geralmente oscila e depois melhora e recorre diante de um novo evento, ou pode mudar para outro sintoma. O Neurologista e Psicanalista Freud chamava de Histeria, hoje chamamos as alterações Somatoformes.
As alterações Somatoformes podem ser divididas em Conversão e Somatização. A Conversão ocorre quando o paciente não movimenta um membro, ou não tem sensibilidade ou diz não estar enxergando (e acredita piamente nisso), mas o exame físico e/ou complementar não confirma isso, ou pode apresentar uma “crise” parecida ou não com crise epilética e seu Eletroencefalograma ser normal na vigência da crise. A Somatização já é um termo mais amplo, que diz respeito a toda manifestação física de um processo claramente psicológico. As manifestações não são só neurológicas, por exemplo: as cefaleias, epigastralgias, diarreia, manchas na pele, etc...
Ao componente psicológico das alterações Somatoformes, dá-se o nome de Dissociação, por ocorrer perturbação nas funções habitualmente integradas da consciência (perda de memória, transes, fugas, despersonificações).
Posteriormente, o termo começou a ser utilizado pela medicina convencional, para distúrbios sem base orgânica claramente diagnosticada, mas cujo quadro pode ser desencadeado por alteração psicológica, ou oscilar de acordo com o estresse, por exemplo, a Fibromialgia, em que o paciente apresenta dores difusas pelo corpo, insônia e cefaleia. Outro exemplo, as cefaleias mais frequentes, como Enxaqueca e Cefaleia Tipo tensional Crônica e algumas dermatites.
O termo Psicossomática foi ampliado ainda mais pelas observações médicas e de psicólogos em conjunto. A doença passou a ser considerada psicossomática quando ocorrem estímulos psicologicamente significativos, que se relacionam com surgimento ou agravamento de distúrbio físico, de uma patologia orgânica observável ou de processo fisiopatológico conhecido. Temos como exemplo o Infarto agudo do Miocárdio, a Hipertensão Arterial Sistêmica, o Diabetes, a Obesidade, Gastrite, Colite e até mesmo o Câncer e doenças infecciosas, como tuberculose.
Segundo Freud, os processos psíquicos para o desenvolvimento das doenças deve ser encarado no mesmo plano que a interferência dos processos psíquicos, físicos e bacterianos.
Segundo Mello Filho (um dos médicos fundadores da Psicossomática no Brasil ) a expressão doença psicossomática foi utilizada inicialmente para referir-se apenas a certas doenças como a úlcera péptica, asma brônquica, hipertensão arterial e colite ulcerativa, onde as correlações psicofísicas eram muito nítidas, posteriormente foi-se percebendo que tal concepção é potencialmente válida para todas as doenças.
Para que uma doença se manifeste, precisamos analisar algumas variáveis:
1 ) Fatores ambientais, sociais e familiares, incluindo o estilo de vida : alimentação, prática ou não de atividade física, higiene do sono, uso de drogas ilícitas, etilismo, tabagismo.
2 ) Genética, ou seja, grau de propensão a determinadas patologias.
3 ) Componente psico-afetivo, ou seja, a maneira como o indivíduo lida com os problemas, seus traumas, perdas, decepções, culpas, desde sua infância. Cada indivíduo lida diferentemente com as circunstâncias da vida, e os resultados dessas experiências traçam o perfil de suas escolhas e seus resultados. E a doença é um resultado.
Na visão junguiana ou da psicologia integral, todo sintoma é psicossomático e pode ser um meio para que o processo do autoconhecimento possa acontecer.
A Neurociência busca explicar as observações clínicas da Medicina e Psicologia, através de esclarecimentos da Fisiologia das Emoções e Sentimentos. Aqui entra o conceito de Sistema Límbico, que é o nome que se dá a estruturas cerebrais que coordenam o comportamento emocional e os impulsos motivacionais. Estão localizadas na base do cérebro. Seus principais constituintes são : Hipotálamo, Tálamo, Hipocampo, Amigdala e o Giro do Cíngulo.
Reações comportamentais como medo, fuga, raiva, sede, saciedade, fome, tranquilidade, são mediadas ou desencadeadas pelo Sistema Límbico.
O Hipotálamo coordena funções vegetativas e endócrinas do cérebro (temperatura, sede, fome, libido, sono). O Tálamo funciona como integrador das informações sensoriais recebidas de todo o corpo (visão, audição, tato, gustação, olfato).
A Amigdala está relacionada com a percepção semiconsciente e padroniza comportamento para cada ocasião, baseando-se na memória de situações prévias e emoções associadas. Sua ablação causa apatia diante das situações. Seu estímulo leva a ansiedade, medo e atenção aumentada.
O Hipocampo está relacionado ao armazenamento da memória.
Este sistema relaciona-se com outras estruturas cerebrais, por exemplo, o Córtex Pré Frontal, cuja lesão causa apatia perante as responsabilidades sociais e falta de concentração.
Doenças da esfera Psiquiátrica, como Depressão, Ansiedade (e sua forma paroxística, o Pânico) são extremamente prevalentes em escala mundial e são concomitantes a várias doenças clínicas e neurológicas. Sabe-se que nesses pacientes, os diagnósticos são mais numerosos e os resultados nos tratamentos são deficientes se não abordarmos o indivíduo integralmente.
A visão Psicossomática vai além. Muitos indivíduos não tem uma doença psiquiátrica definida, mas vivem em condições sociais de total pobreza de estímulos, ou em situação de desajuste familiar crônico. A análise Psicossomática analisa o meio social e ambiental onde o paciente se insere, já que o ser humano sofre influência de todos esses fatores.
Concluímos que a Psicossomática não é um tipo particular de Medicina e sim a tradução do processo de Saúde e Adoecimento do ser humano, que é feito de corpo, emoção e espírito, que interagem reciprocamente.
O conceito de Saúde pela Organização Mundial de Saúde é amplo : perfeito bem estar social, físico, mental e espiritual. Então, precisamos agir em todas as esferas, com compreensão integral e utilizando as Práticas Complementares e Integrativas nos âmbitos da prevenção e tratamento das doenças de todas as dimensões.
”... entre as causas ocasionais de tuberculose, não conheço nenhuma mais certa que as paixões tristes, principalmente quando são profundas e de longa duração. “ (Laenec)
Frederic Chopin : nasceu em 1810, na Polônia. Formou-se no conservatório de piano de Varsóvia. Em 1830 mudou-se para Viena, deixando seus pais. Não obteve êxito profissional e foi acometido de uma grave depressão. Na época chegou a dizer “ ... tudo está triste e escuro para mim. Sinto-me estranho e solitário, ... que viver ou morrer parece-me a mesma coisa...”
Mudou-se para Paris onde casou-se pela primeira vez com Maria Wodzinska. Profissionalmente bem, mas acabou por separar-se da esposa.
Nesta época, contraiu tuberculose.
EM 1838 está na ilha de Maiorca, onde morava com a poetisa francesa George Sand e seus filhos. A doença progredia, agora com sangramento pulmonar.
Mudou-se para Paris novamente. Teve um período muito produtivo profissionalmente. Confessou em seu diário “ ...através da música, eu posso expressar o meu desespero “. A doença o consumia, enquanto seu casamento acabava, em 1845.
Em 1847, ele morre, apesar de ter recorrido aos melhores médicos da época.
Dra. Elaine Cristina Lima
Neurologista Clínica